Entrevistámos o Dr. Miguel Talina: conheça o profissional que pensou este espaço

Sabemos que focou a sua Tese de Doutoramento na população reclusa. Porquê?

Desde o período de formação na especialidade que o trabalho de perito para os Tribunais me interessou. E o serviço onde fiz a minha formação (Departamento de Saúde Mental do Hospital S. Francisco Xavier) tinha uma grande tradição na área da psiquiatria forense. Esta subespecialidade engloba a atividade pericial, onde se procura, por exemplo, determinar a responsabilidade de uma pessoa que praticou um delito ou um crime e a prestação de cuidados a pessoas que se encontram privadas da liberdade, a cumprir uma pena ou uma medida de segurança.

Este interesse pelas fronteiras entre a justiça e a psiquiatria já me tinha conduzido a uma investigação sobre os pacientes sujeitos ao internamento involuntário, dito compulsivo na Lei de Saúde Mental. No nosso país não existem muitos trabalhos de investigação focados nas necessidades dos reclusos com problemas de saúde mental e este grupo é especialmente vulnerável à vitimização, ao suicídio e à reentrada no sistema prisional. Deste modo, o tema da tese surgiu do cruzamento entre o interesse neste campo e a percepção da importância de conhecer melhor a realidade da população reclusa.

 

À sua atividade clínica acresce o trabalho formativo, nomeadamente com alunos internos. De que forma a segunda atividade influencia a primeira?

A formação dos mais jovens, sejam alunos ou médicos não-especialistas, faz parte do dia-a-dia da profissão médica e é um dever deontológico. Um dos melhores modos de formar é procurar ser um modelo de uma atuação correta junto dos pacientes. Esta preocupação suplementar de ensinar a trabalhar contribui para o aperfeiçoamento da prática clínica, para a reflexão sobre o que está a acontecer e o que se vai decidir. O benefício para os pacientes é extraordinário e, geralmente, as pessoas compreendem, e valorizam, que o seu médico esteja acompanhado por jovens em formação.

 

Escreveu na sua biografia que “um trabalho desenquadrado dos outros profissionais é insatisfatório e pouco efectivo”. Porque lhe é tão importante esta lógica colaborativa?

Penso que existem duas dimensões que fundamentam a importância do trabalho em equipa. A primeira é que a complexidade dos cuidados de saúde necessita de muitos saberes e práticas para se alcançar o melhor resultado possível. O diálogo entre as diversas especialidades médicas entre si e entre os profissionais das disciplinas que servem a Medicina é o principal fator de sucesso de uma organização de cuidados de saúde.

A segunda dimensão é que o trabalho de equipa favorece a descoberta de novas soluções para velhos problemas, além de potenciar a motivação, a criatividade e a gratificação dos profissionais. No fundo, significa que várias cabeças pensam melhor que uma só.

 

De alguma forma, é também aplicada no conjunto de profissionais que trabalham no espaço Egomed?

É verdade. Desde o início, quisemos trazer para este espaço o mesmo princípio de colaboração, e de intervisão, que partilhávamos no hospital onde fomos formados. O nosso objetivo é reunir um grupo de profissionais muito conhecedor do valor da saúde mental nas diferentes idades da vida e que possa oferecer cuidados de excelência nesta área. Não posso deixar de repetir o nosso lema: “a sua saúde é a nossa profissão”.

 

Tem consultório ativo aqui desde 1997. Mas a ligação a Alvalade é muito anterior a esta data, não é verdade?

Sim, a ligação dos meus pais a este bairro vem desde a sua origem, nos anos cinquenta. Cresci, brinquei, estudei por aqui e, naturalmente, quando foi possível lançar este projeto senti que fazia sentido instalar-nos num bairro residencial e comercial tão especial como o de Alvalade. A oferta de serviços de saúde deve estar próximo das pessoas, dos locais onde vivem, ou trabalham, de modo a reduzir o tempo gasto em deslocações e facilitar o acesso

 

A recente remodelação deste espaço aposta na tranquilidade e no conforto de profissionais e clientes. Quais têm sido as reações?

Procurámos que a ampliação e a requalificação deste espaço, com uma entrada na via pública, não se afastasse do ambiente confortável e familiar que foi uma marca muito própria desde o início. Queremos sentir-nos numa segunda casa e que os nossos clientes se sintam assim também. Para a saúde e o bem-estar não é indiferente o ambiente onde respiramos e nos relacionamos com os outros.

As reações têm sido muito boas. Novos profissionais juntaram-se a nós e alargámos o leque de cuidados oferecidos. As pessoas que nos procuram também têm realçado o encanto desde consultório e como se sentem bem acolhidas.

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